“Para mim, um momento específico virou a chavinha: quando fizemos uma apresentação na Câmara Municipal de Coxim, que foi a minha primeira peça. Quando a gente terminou, todo mundo aplaudiu de pé e aquela sensação foi uma das melhores que eu já senti toda a minha vida. Depois disso, decidi que teatro era o que eu iria continuar fazendo”.
Sarah Luiza Pereira, de 17 anos, teve o primeiro contato com o Garoto Cidadão em novembro de 2021, quando as aulas ainda aconteciam de maneira online por conta da pandemia. “A paixão pelo teatro foi uma coisa que eu fui descobrindo ao longo desse tempo”, ela conta. Após a apresentação na Câmara, Sarah decidiu que gostaria de seguir atuando, mesmo após o terminar o período como educanda do projeto.
Ela revela que um dos grandes aprendizados junto ao Garoto Cidadão foi no quesito da comunicação: “quando cheguei, eu tinha muita vergonha e quase não falava com ninguém. Lá dentro, fui mudando e fui aprendendo a me comunicar melhor com as pessoas, a falar em público. Isso me ajudou bastante na escola e nas próprias apresentações”. Concomitantemente, a paixão pelo teatro foi se desenvolvendo.
No Garoto Cidadão, “estamos enfatizando a importância do mundo da educação para o trabalho, para auxiliar educandos e educandas a refletirem sobre a possibilidade de acessarem espaços de educação, de ter uma perspectiva de carreira – especialmente nas aulas de Projeto de Vida, Cultura e Cidadania”, explica Paulo Henrique Neri, coordenador da unidade de Coxim (MS). É durante o Projeto de Vida que os jovens traçam metas e objetivos para o futuro.
Pensando nisso, os educadores organizaram uma visita à Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) com educandos e educandas, com a ideia de ampliar o olhar dos jovens para além do ambiente rural em que vivem, para que possam vislumbrar um futuro fora do mundo rural, ou “até para esse mundo, mas se voltando para outras funções, como veterinário, administrador de fazenda, professor na área rural”, diz Paulo.
Durante a visita à UFMS, Sarah se surpreendeu: “eu nunca tinha ido a uma faculdade antes, então eu não sabia como eram as coisas naquele ambiente. Lá, eu vi aquilo tudo e pensei ‘é isso!’”. Foi depois de conhecer a universidade e conversar com os coordenadores dos cursos que ela teve certeza: iria prestar vestibular para o curso de Artes Cênicas. Foi aprovada em 2º lugar na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD): “fiquei muito feliz de ter passado no curso que eu queria!”.
Nessa mesma visita à UFMS, outra educanda da unidade de Coxim esteve presente: Jamileh Prates, que afirma ter sido uma experiência decisiva para a escolha do curso de graduação. “Ver como era uma universidade e conhecer as pessoas que fazem parte desse mundo foi um ponto de partida ainda maior, uma experiência maravilhosa. Me mostrou e abriu a minha mente para que eu pudesse ter ainda mais certeza do que eu realmente queria fazer enquanto profissional”, comenta a jovem, que já tinha a meta de se tornar professora.
Jamileh conheceu o Garoto Cidadão por meio de um conhecido da família, que convenceu a mãe a inscrever todos os filhos no projeto. “Minha trajetória como educanda do Garoto Cidadão me fez adquirir saberes e me incentivou a começar o curso de graduação que sempre quis”. O desejo de cursar Letras acompanha Jamileh desde que ela se entende por gente. “Sempre me interessei por livros, por coisas que envolvam a leitura e a escrita, como escrever textos e poemas”, ela explica.
Ela destaca que, enquanto no Garoto Cidadão, gostava de observar as pessoas e os educadores: “me inspiraram a querer ainda mais estudar Letras e ser professora”. Ela também quer ser alguém que ensina: “eu quero ser uma pessoa que vai mudar o contexto e ajudar a sociedade por meio da leitura”, explica. Neste ano, ela foi aprovada em 2º lugar no vestibular da UFMS para o curso que sempre quis.
Com Sarah e Jamileh, o coordenador da unidade do Garoto Cidadão conta que “os educadores vinham acompanhando esse desejo delas de entrar para a universidade desde o ano passado, então as incentivamos e auxiliamos com o processo do ENEM e o vestibular”. As duas jovens são as primeiras meninas “que a gente conseguiu efetivar o ciclo de muitos que vem aí”, relata o coordenador. Esse resultado, segundo Paulo, mostra que é possível efetivar a construção cidadã e o papel de protagonista de jovens como Sarah e Jamileh.
Essa e outras histórias você pode conferir em nosso Relatório de Impacto.