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4ª edição do Histórias que Ficam

Nos dias 5, 6 e 7 de abril, o Histórias que Ficam dá início à mais uma etapa do programa: a residência presencial de roteiro e produção, que acontecerá em São Paulo. A Fundação CSN lançou a 4ª edição do programa no final de 2023, na qual puderam se inscrever projetos documentais que já tivessem iniciado a etapa de desenvolvimento e estivessem em fase de pré-produção, produção ou montagem. Com temática livre, as quatro propostas de documentários contempladas são: Aqui Não Entra Luz; Boy; Corpo e Alma; Encontrando Norma. O Prêmio Especial do Júri foi entregue ao projeto Labaredas.

Descubra mais a respeito da 4ª edição do Histórias que Ficam:

Sobre o Histórias que Ficam

O programa nasceu em 2011 com o objetivo de contemplar toda a cadeia produtiva do audiovisual brasileiro – do desenvolvimento do projeto até a sua exibição. Os projetos selecionados em outras edições receberam o apoio criativo para a produção de suas propostas, todas com temas com discussões relevantes à sociedade brasileira. O Histórias que Ficam busca incentivar a produção audiovisual brasileira e visa criar obras com grande qualidade artística e cultural.

O edital vem ao encontro do propósito da Fundação CSN, que é transformar vidas e comunidades por meio da educação, cultura, curadoria e articulação. “Investir em cinema traz um pouco disso tudo, porque trata-se de uma arte que tem um potencial imenso de contribuir com a educação, de provocar a reflexão no público que assiste”, explica André Leonardi, Gerente Geral da Fundação CSN. Ele ressalta: “acreditamos na potencialidade do cinema brasileiro porque consideramos que esse seja, para o Brasil e para o mundo, um importante agente para a transformação social”.

O Histórias que Ficam oferece consultorias, fomento e difusão aos produtos do documentário brasileiro, incentivando verbas de patrocínio para produção audiovisual, bem como workshops e networking com diversos agentes do mercado do audiovisual. O programa incentivará a produção dos quatro documentários selecionados, com até R$500 mil.

A 4ª edição do programa

Em outubro do ano passado, contamos aqui que, como parte do lançamento da 4ª edição do programa, a Fundação CSN promoveu uma masterclass, intitulada ‘A promessa de um filme: do teaser ao trailer’, ministrada por Duda Leite, jornalista, cineasta e curador. A palestra abordou a importância da realização de narrativas audiovisuais sintéticas – o teaser e o trailer – para as diferentes etapas de criação de um filme.

Com mais de 350 inscrições, vindas de todas as regiões do país e 21 estados, os projetos submetidos para esta edição passaram por uma comissão julgadora, composta por nomes conceituados do setor audiovisual nacional, incluindo diretores, roteiristas, montadores e produtores. Os selecionados foram convocados para um laboratório presencial de análise e imersão criativa, que aconteceu em dezembro em São Paulo – os participantes de fora da capital paulista tiveram as despesas custeadas pela Fundação CSN.

Leonardi avalia o programa como “uma premiação progressiva”, porque “os projetos selecionados para o laboratório já recebem um primeiro prêmio, que é a oportunidade de participar de uma consultoria especializada com profissionais renomados do audiovisual. As demais premiações vêm em seguida, culminando no apoio financeiro de até meio milhão de reais para cada uma das quatro obras”.

A seleção para a 4ª edição

Ao todo, serão distribuídos até R$500 mil para cada um dos quatro projetos selecionadas, além de consultorias criativas que se estendem por todo o período da iniciativa. As consultorias “são um prêmio dentro do prêmio, porque têm o potencial de mudar o rumo de um documentário ou melhorar a história que está sendo contada, criando excelentes produtos culturais, tanto em seu aspecto estético como por sua importância enquanto obra cinematográfica”, explica Daniela Capelato, consultora permanente do Histórias que Ficam e roteirista, já tendo atuado no Instituto Nacional do Audiovisual (França) e coordenado o programa “Rumos do Cinema e Vídeo (Itaú Cultural)”.

Nesta edição, o Histórias que Ficam contou, ainda, com a consultoria Rodrigo Siqueira no primeiro laboratório, documentarista que atua com obras de invenção que transitam no limiar de diferentes registros. Dois dos principais trabalhos de Rodrigo – “Terra Deu, Terra Come”, de 2010, e “Orestes”, de 2015 – configuram na lista dos melhores documentários brasileiros de todos os tempos, de acordo com a ABRACINE – Associação Brasileira dos Críticos de Cinema.

Quem também compôs o time de consultores do primeiro laboratório foi Tanya Valette, diretora de cinema, televisão e gestora cultural da República Dominicana. Primeira mulher a dirigir a EICTV, fundada em Cuba pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez, Tanya é diretora artística e programadora do Festival IBAFF, na Espanha, organizando mesas redondas e exibição de diferentes obras de cinco das melhores escolas de cinema do mundo.

Roberto Baggio, documentário dirigido por Henrique Cartaxo que parte da vitória brasileira na Copa do Mundo de 1994 para fazer uma reflexão sobre os anos 1990, foi um dos 15 finalistas desta 4ª edição e participante do laboratório presencial de análise e imersão criativa. Para Raquel Valadares, produtora do filme, “o Histórias Que Ficam é uma iniciativa de referência para nós, documentaristas. Essa reputação, construída ao longo das edições, se deve, sobretudo, ao cuidado com a seleção dos projetos e a abertura para propostas autorais e de experimentação de linguagem. Nosso projeto ter sido finalista do Histórias Que Ficam de 2023 é, simultaneamente, um reconhecimento e uma validação importantes para os próximos passos do documentário. Agradecemos à Fundação CSN por apreciar, acreditar e investir no desenvolvimento e na produção de obras cinematográficas do gênero documentário. O Brasil deve muito ao Histórias Que Ficam”.

As quatro propostas selecionadas nesta 4ª edição do Histórias que Ficam são: Aqui Não Entra Luz; Boy; Corpo e Alma; Encontrando Norma.

Corpo e Alma, de Carlos Nader, se debruça sobre um tema contemporâneo: as questões que tratam da exibição dos corpos nas redes sociais. Dentro do contexto do mundo digital, Nader pretende levantar perguntas a respeito do mundo fitness dos influenciadores, dos padrões de beleza impostos nas mídias online, da harmonização e culto ao físico.

Em Encontrando Norma, Lívia Perez, por sua vez, investiga a vida de Norma Bahia Pontes, cineasta e ensaísta do Cinema Novo. A ideia para o documentário surgiu quando Lívia encontrou materiais das décadas de 1960 e 1970 sobre a vida da cineasta, que possivelmente seja a primeira diretora lésbica brasileira.

A diretora de Aqui Não Entra Luz, Karoline Maia, conta que, depois de ter o projeto selecionado para os dias de atividades presenciais em São Paulo, ela e a Paula Kimo, produtora do filme, tiveram um momento muito acolhedor e revelador, porque “é sempre muito bom ouvir um olhar fresco, uma perspectiva de fora. A troca durante o laboratório foi muito legal, como se eu tivesse a oportunidade de reimaginar o meu filme”.

Aqui Não Entra Luz é uma produção autobiográfica, na qual Karol Maia, mulher negra, periférica e que cresceu conhecendo as casas e as pessoas com quem a mãe trabalhava enquanto empregada doméstica, investiga qual é a relação da senzala com o “quarto de empregada”, a partir de uma pesquisa pelo Brasil colonial e pelo Brasil atual. Karol diz que estava descrente de que Aqui Não Entra Luz seria um dos ganhadores do Histórias que Ficam por já ter recebido muitos “nãos”. Quando o resultado veio, foi um alívio, como se eu tivesse tirado alguns quilos das minhas costas”, ela conta.

Já Michel Carvalho, diretor de Boy, projeto também vencedor desta 4ª edição do programa, conta que chegou a se inscrever para outros editais do Histórias que Ficam, mas, até então, não tinha sido contemplado. Boy é um desdobramento da tese de doutorado de Michel, voltado para a área da antropologia visual, que aborda a prostituição, atores e atrizes pornográficos e garotos e garotas de programa na cidade de São Paulo. Ao saber da abertura do 4º edital, Michel e Fernando Sapele, produtor-executivo e criativo do filme, decidiram inscrever o filme: “Reescrevi o projeto do zero. Busquei novas referências, escrevi muita coisa, organizei todo o material e enviei”, conta o diretor.

O documentário Labaredas, de Eduardo Ades, explora os eventos dos incêndios do Museu Nacional e na Amazônia, e recebeu o prêmio especial do júri.

Todos os projetos contemplados nesta 4ª edição realizarão, ainda, residências presenciais de roteiro, produção e montagem. Nos dias 5, 6 e 7 de abril acontece a residência de roteiro e produção, em São Paulo.

Confira a ficha técnica dos quatro projetos que serão premiados pela 4ª edição do Histórias que Ficam em 2023, por ordem alfabética:

Aqui não entra luz

Produtora: Apiário Estúdio

Direção: Karoline Maia

Sinopse: A cineasta Karol Maia, filha de uma trabalhadora doméstica, investiga qual é a relação da senzala com o quarto de empregada a partir de uma pesquisa íntima pelo Brasil colonial e pelo Brasil atual.

Boy

Produtora: Claraluz Filmes

Direção: Michel Carvalho

Sinopse: Um dia na vida de um prostituto negro, cujo corpo é desejado por homens e mulheres, mas seu maior sonho é ser amado. Boy é um documentário híbrido de longa-metragem sobre o dia a dia de garotos de programa negros na cidade de São Paulo. Através de linguagem observacional, diários pessoais e momentos líricos, o filme reflete sobre desejo, colonialidade e (hiper) sexualização do homem negro.

Corpo e Alma

Produtora: Já filmes

Direção: Carlos Nader

Sinopse: Este é um documentário sobre pessoas que exibem seus corpos nas redes sociais, uma questão física que também é uma questão cultural de peso em nosso tempo. Não há dados oficiais sobre a quantidade de influenciadores fitness por aqui, mas assim como o Brasil vem sendo apontado há décadas como o segundo país em cirurgias plásticas, logo atrás dos EUA, não há muita dúvida de que nós também ostentemos o vice-­‐campeonato mundial no podium da exibição corporal. Também não há dúvida de que a cidade de SP tem uma posição central na cultura eletro-­‐fitness que, entre seguidos e seguidores, envolve milhões de pessoas. Daí, muitas perguntas. O culto ao corpo, nos níveis e padrões em que ocorre hoje, faz bem ou mal à saúde da mente? Os musos fitness harmonizados do insta são uma encarnação carnuda de uma vida virtual e física excessiva? Por outro lado, o orgulho ostensivo de um corpo é um meio potente de afirmação de uma identidade? Uma legião de indivíduos que sofreram ou ainda sofrem preconceito encontrou nas redes sociais um espaço onde podem virar o jogo? É sobre estas questões que Corpo e Alma quer se debruçar.

Encontrando Norma

Produtora: Doctela

Direção: Livia Perez

Sinopse: Após encontrar um filme 16mm da década de 1960 e vídeos dos anos 1970, a diretora Lívia Perez se lança em uma investigação obcecada sobre a enigmática Norma Bahia Pontes, cineasta e ensaísta do Cinema Novo, possivelmente a primeira diretora lésbica brasileira. Diante da fragilidade dos vestígios que cercam a presença fugidia e fantasmagórica de Norma, Lívia conduz uma aproximação afetiva, estabelecendo um diálogo intergeracional entre duas mulheres latino-americanas que buscam afirmar suas expressões artísticas.

Prêmio especial do júri – que inclui participação dos laboratórios criativos dessa 4ª edição:

Labaredas

Produtora: Syndrome Filmes

Direção: Eduardo Ades

Sinopse:  documentário que apresenta as histórias entrelaçadas de destruição e resistência, explorando eventos cruciais que marcam o Brasil contemporâneo: os incêndios do Museu Nacional e na Amazônia. O filme reconstituirá a história desses dois espaços, tendo como principal conector os povos indígenas. No polo amazônico, o filme terá como foco o povo Parakanã e sua terra Apiterewa (Pará), a mais desmatada do país. No outro do Museu, o filme acompanhará as reflexões do antropólogo Carlos Fausto, com sua relação de quase 40 anos com os Parakanã. Ao revirar todas essas cinzas, o filme discutirá o colonialismo (passado e presente) na relação com os indígenas, e também as formas de resistência em defesa da ciência e da vida dos povos originários. Através dessas vozes, somos desafiados a repensar nossa visão de progresso e imaginar futuros alternativos e inclusivos, libertos do signo da destruição.

O programa Histórias que Ficam conta com patrocínio da CSN, parceria da Unibes Cultural e realização da Fundação CSN e Ministério da Cultura via lei de incentivo à cultura.