Quase completando a inscrição para o Pre-College de Barnard, eis que surge o campo: “Escolha seus cursos” – obviamente bateu um certo desespero. Não só porque iria passar um mês inteiro estudando tais cursos, mas também porque todos eles possuíam algo pelo qual me interesso. A lista era grande, um curso pela manhã e outro para a parte da tarde. Ok, “narrow the options”, usei a velha estratégia de eliminação de opções. Os temas variavam entre política, literatura, arquitetura, artes e entre outros campos, mas o que vinha sempre à minha cabeça era tomar cuidado para não escolher algo que demandasse muito conhecimento da história ou cultura americana, a qual vi vagamente na escola e a falta desse background seria um desafio constante.
Mas, pensando bem, o que não seria um desafio nessa experiência, como um todo? Assim como no ano passado, eu estaria passando um longo período longe dos meus amigos e família (e gatos); viria para um lugar onde ninguém conhece bem minha língua materna, e eu teria que me expressar somente em inglês; iria adquirir hábitos completamente diferentes de estudo, de alimentação (e como é diferente essa última); me adaptaria de novo às aulas e pesquisas em inglês… O que seria mais um desafio, para quem se propôs a tantos outros?
E assim tomei minha decisão por dois de meus maiores interesses: teatro e política. De manhã, o curso Shakespeare She-roes – Heroínas de Shakespeare –, com leitura assídua de textos das peças de Shakespeare no formato teatral (com todas as entradas e saídas atores), o que é bem diferente de ler o texto em formato de livro. A tarefa de ler em média 3 peças inteiras em cada semana e analisar a fundo as relações entre todos os personagens da trama foi bem amenizada pelos debates em sala de aula, nos quais assistimos várias interpretações, não só online, mas pessoalmente: pudemos assistir uma adaptação dela mesma, a senhora tragédia Romeu & Julieta, feita pelo New York Classical Theater em um parque de Manhattan. Além disso, nossa agenda conta com mais uma interpretação: a mistura de comédia e tragédia Medida por Medida. Qual o papel de ver a atuação ao estudar a peça? Bem, uma imagem vale mais que mil palavras, não é mesmo?
Já depois do almoço, o foco da atenção muda totalmente. Saímos das paixões shakespearianas e passamos à persuasão do grande jogo político, na aula American Political Communication (Comunicação Política Americana), onde o que conta é entender o porque da mensagem política ser passada para o público da forma que é. Em meio as field trips semanais, nas quais visitamos o Federal Hall – ex sede do governo da cidade de New York –, a exposição Ativismo Social em New York no Museum of The City of New York, e a sede da emissora de radiodifusão mais antiga dos Estados Unidos, National Broadcasting Company (NBC), onde tivemos o prazer de entrar, por exemplo, no estúdio onde Jimmy Fallon grava seu famoso “The Tonight Show”. A importância de juntar os pontinhos quando se trata de anúncios na televisão, programas de rádio, cartazes, discursos, manchetes, notícias em mídias sociais? Não existe modo de conhecer uma figura política sem estudar as manobras que eles fazem quando se comunicam com seus eleitores.
Ambos os cursos foram ótimas escolhas, não me arrependo em nada. Aprendizado é o que importa e, seja em peças de teatro ou discursos políticos, não é só a mensagem que conta, mas também o meio, o público, quem fala e quem passa por todos os processos de produzir informação e inspirar empatia pelos laços de uma trama. Seja ela na ficção, como nos grandes clássicos que lemos e assistimos, ou na vida real, como veremos nas eleições desse ano.
Brazilian Girl of 506
Por Maria Livia, bolsista do Ganhar o Mundo