“O Beco do Arigó é um marco, porque é na rua que a gente vê as diversas linguagens artísticas de diversas pessoas. O grafite é uma arte marginal por natureza e que agora está alcançando outros lugares, tem virado ponto turístico. O Polo de Street Art trouxe essa contribuição para Volta Redonda.” Jader Mattos, grafiteiro e professor do Ninho do Arigó, junto com Isabela Wilmsen, artista e ex-aluna do Ninho do Arigó.
Natural de Angra dos Reis, Jader Mattos chegou a Volta Redonda em 2000. Antes de conseguir se dedicar integralmente à arte, Jader trabalhou em diversos ramos, mas ressalta que “nunca deixei de dar um jeito de mexer com isso, então fazia letreiros, faixas, já que as coisas ainda não eram tão digitais”.
Tempos mais tarde, em 2009, fez parte do grupo de estudos chamado Diálogos, onde teve o primeiro contato com a parte mais teórica dentro do campo artístico: “ali conheci algumas referências, debatia sobre desenho”. Foi por meio de uma exposição homônima, que grupo organizou no Centro Cultural Fundação CSN, que Jader conheceu o espaço da Fundação CSN, “e entendi o que acontecia aqui dentro e as diversas atividades que tinham. Desde então, não parei mais de frequentar”.
O primeiro trabalho de Jader voltado para a arte foi na Associação dos Aposentados de Volta Redonda (AAPVR), quando estava começando a aprender a mexer em softwares de edição de imagens. Foi há pouco mais de cinco anos, ele realizou o primeiro trabalho comercial com grafite. Desde então, o grafite começou a ficar muito presente nos trabalhos e, em 2019, Jader fez a pintura de seu primeiro mural, na Cervejaria Paranoide, em Volta Redonda.
Jader foi convidado para participar do Polo de Street Art em 2023 e revela que “sempre quis conciliar dar aulas com a profissão de designer”. Para as oficinas que ministrou no Ninho do Arigó, ele explica que fez questão de levar a parte teórica para o curso e “alguns alunos se identificaram com esse meu modo de fazer”. Nos encontros, os alunos e o designer trataram da relação entre o grafite e o muralismo, e sobre o processo criativo enquanto artista. “Das pessoas que estavam ali e que demonstravam esse lado de querer pesquisar, de querer entender essas dinâmicas, a Isabela foi uma delas”, conta o artista. Os dois já se conheciam pelos respectivos trabalhos, mas a integração durante o curso foi maior: “Ela estava muito interessada em desenvolver o estilo e entender melhor a arte dela”, relata Jader.
Ele ressalta, ainda, a importância de levar a arte para a periferia e desenvolver projetos em bairros mais afastados – como o Bairro do Retiro. “O curso de grafite representa uma facilidade de acesso aos recursos, ter um primeiro contato com o spray, ter um espaço propício. E ter acesso ao conhecimento, o que usar, como usar”, comenta o designer.
Moradora do Bairro do Retiro, Isabela Wilmsen teve estímulo em casa para os estudos e as artes desde pequena. Em 2020, durante a pandemia, começou a confeccionar ecobags pintadas como hobby. Aos poucos, o que iniciou como passatempo se transformou em fonte de renda.
Em 2023, Isabela descobriu que as inscrições para o Ninho do Arigó estavam abertas e logo se interessou. “Com o curso, eu iria me aprimorar, estudar e conhecer outras pessoas”, ela conta. A jovem se inscreveu, participou das aulas e afirma: “Foi quando comecei a ver os meus desenhos numa escala maior que uma bolsa”.
Ao final do curso, Isabela e os demais participantes fizeram um mural coletivo com as artes produzidas durante as oficinas. Agora, “qualquer morador da cidade ou visitante que passe por ali terá uma noção muito maior, muito mais ampla do que é o grafite”, diz. Ela destaca a presença de grafiteiros de outras cidades nas aulas: “Foi ótimo conhecer essa galera, porque eles puderam passar um pouco da experiência para a gente”.
Depois de terem participado do Ninho do Arigó, ela e Jader já pintaram uma parede juntos: “As coisas que eu faço se aproximam muito das coisas de que ele gosta nos estilos de pintura”. Isabela já está escalada para pintar outros murais em Volta Redonda: “O curso me deu mais confiança de começar a pintar coisas maiores”, explica.
Assim como Jader, Isabela também quer ser professora e planeja, em breve, cursar Licenciatura em Artes, “para passar para a frente o que aprendi”, diz. Para o futuro, ela conta que se imagina andando por Volta Redonda e vendo “uma parede bem grandona que eu pintei. Me deixaria bem feliz!”.
Essas e outras histórias você pode conferir em nosso Relatório de Impacto.