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Giulia e Julia: as meninas que ganharam o mundo

Com a proposta de transformar a vida de jovens ao oportunizar formação de qualidade, desde 2016, a Fundação CSN investe na educação de jovens meninas para que se tornem lideranças femininas no futuro. O Ganhar o Mundo foi pensado como um programa de bolsas de estudos para jovens mulheres que desejam cursar graduação no exterior.  

Composto por várias etapas, durante o programa, as bolsistas recebem curso de inglês online, participam de processo seletivo para aperfeiçoamento da língua inglesa e vivência acadêmica em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Com o programa Ganhar o Mundo, reforçamos nosso compromisso em proporcionar Educação de Qualidade (ODS 4) e Promover a Igualdade de Gênero (ODS 5), em harmonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.  

Compartilhando da vontade de se tornar liderança feminina e conquistar o mundo, Giulia Ribeiro e Julia Shimizu participaram do programa e hoje colhem os frutos da experiência vivida em Nova Iorque – cada uma à sua maneira.  

Giulia Ribeiro vem de um contexto de mudança social.  “A minha família tem uma origem muito pobre, de Senador Camará, uma favela no Rio de Janeiro. Minha avó e minha mãe cresceram lá. Eu nasci lá. E o que transformou a nossa vida foi a educação”, conta.  

Como não pôde estudar, a avó de Giulia fez de tudo para que as filhas – todas mulheres – seguissem com os estudos. A mãe se formou professora, concluiu o mestrado e cresceu dentro da profissão: ministrou aulas na rede pública da cidade e do estado do Rio de Janeiro e hoje já é aposentada pelo município e leciona em universidade. Giulia revela que cresceu “acreditando que você tem que estudar e que a educação muda a vida das pessoas. E eu vi isso acontecendo dentro da minha casa: saímos da favela para um lugar melhor”.  

Ainda assim, ascender socialmente, o que incluía estudar fora do país, parecia um sonho distante: “primeiro porque não tínhamos informação acessível; e depois, porque eu estudava num colégio público, não sabia exatamente como ir atrás desse sonho. Parecia algo impossível”. Ela, que sempre gostou de estudar, aprendeu inglês sozinha e sonhava com a possibilidade de estudar em outro país.  

Por não ter orientação de como concretizar essa vontade, começou a graduação no Brasil, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo. “Na época em que concluí o primeiro semestre, alguém encaminhou um e-mail para minha mãe sobre o programa Ganhar o Mundo”, e a mãe achou o programa a cara da filha.  

Em 2017, aos 19 anos, Giulia fez o processo seletivo e foi aprovada na primeira etapa do Ganhar o Mundo. “Não sabia o que iria acontecer, mas fiquei muito feliz com todas as possibilidades”. As meninas selecionadas passaram uma semana em Volta Redonda (RJ), no Hotel-escola Bela Vista, onde realizaram o TOEFL (Teste de Inglês como Língua Estrangeira) e se conheceram entre si. Depois, houve a seleção de meninas para participar do pre-college, na Universidade de Barnard, em Nova Iorque (EUA). “Quando eu fui aprovada para o pre-college nem acreditei, fiquei em êxtase”, relembra. 

Para ela, foi uma das experiências “mais incríveis que alguém pode ter na vida”, descreve, “poder estudar fora do país, conhecer pessoas de diversos lugares diferentes, com histórias incríveis, que são inteligentes e que acrescentaram na minha vida outras formas de pensar”. 

Ao retornar para o Brasil, a experiência em Barnard College retornou à Giulia em forma de convite para começar um projeto de iniciação científica na universidade no Brasil: ela se juntou à Heloísa Buarque de Hollanda na pesquisa acadêmica. Os estudos daquela época evoluiram para um projeto de mestrado e, hoje, Giulia pesquisa narrativas e processos discursivos e expressões do feminismo no âmbito cultural – literatura, cinema – durante a Ditadura Militar brasileira. “Aquela coisa de contar histórias de mulheres, aquilo tudo que eu tinha vivido no Ganhar o Mundo estava conectado”. 

Giulia relata que o programa da Fundação CSN foi a chave determinante tanto para ela encontrar propósito nas escolhas pessoais e acadêmicas, receber oportunidades e seguir naquilo que acreditava, que era o poder transformador da educação e a importância disso para mulheres. Como ela mesma se define como “acumuladora de conhecimentos”, hoje Giulia segue aprendendo novas informações dentro da CSN, onde atua na equipe de Gente e Gestão, trabalhando diretamente com a Universidade Corporativa desde outubro de 2022.   

Apesar dos nomes parecidos, Julia Shimizu tinha apenas 15 anos quando começou o processo para estudar no exterior. Nascida em Cotia, na grande São Paulo, ela – junto com a mãe e o pai – já estava buscando possibilidades de intercâmbio quando o pai encontrou sobre o Ganhar o Mundo: “para ser bem sincera, me parecia uma oportunidade surreal, no sentido de ter todas as oportunidades custeadas, a estrutura do programa com todo o treinamento, o curso de inglês, o pre-college em Barnard e a própria graduação”, relembra. 

Também em 2017, Julia fez todo o processo seletivo do programa da Fundação CSN: foram redações, diferentes provas e entrevistas, até que saiu o resultado: ela, assim como Giulia, entre as mais de 700 inscritas, foi uma das selecionadas para o curso preparatório para tentar a faculdade nos Estados Unidos.  

Para Julia, a semana que passaram em Volta Redonda, no Hotel-escola Bela Vista, foi “superimportante, porque me abriu o mundo ao ver que várias das coisas que as outras bolsistas estavam discutindo eram coisas que eu não sabia. Aprendi muito com as próprias bolsistas”. Ela relembra que naqueles dias, o mais interessante dessa etapa foi conhecer gente do Brasil inteiro. Eram meninas de Manaus, de Recife, do Rio de Janeiro, de São Paulo. “Foi minha primeira vez viajando sem meus pais, aos 15 anos, então foi incrível. Naquele momento a possibilidade de estudar no exterior começou a se materializar”, comenta. 

Giulia e Julia, junto das meninas selecionadas, passaram por um curso preparatório para entender o processo de se candidatar para uma faculdade nos Estados Unidos, que “era uma coisa que eu não considerava na época, por ser algo muito caro e difícil de conseguir bolsas quando você é um estudante internacional”, explica. Ela conta que parecia uma possibilidade inacessível, e “se não fosse pelo Ganhar o Mundo, eu não sei se teria tido o incentivo financeiro nem a estrutura necessária para o processo de me inscrever para uma graduação nos Estados Unidos”.  

Iniciou, então, a preparação para a próxima etapa: se candidatar à escola de Barnard, na qual a própria Universidade de Barnard oferece um curso para alunos do ensino médio, durante o verão, para que os estudantes consigam experenciar a faculdade, conhecer o campus e também entender como funciona a faculdade. Mais uma vez, Julia foi selecionada. “Sem a Fundação CSN eu também não teria a possibilidade de pagar por esse curso. Nem meus pais conseguiriam pagar, mas a Fundação CSN custeou tudo, passagem, moradia, e o curso em si. Fiz o curso pre-college em Barnard, me matriculei nas disciplinas de literatura criativa e ciências políticas e foi incrível”.  

Julia enxerga o momento do pre-college como decisivo para a escolha do curso de graduação, que se deu com a especialização em ciências políticas. Ela explica que “foi quando eu percebi que estudar nessa faculdade era o que eu realmente queria. Eu me via morando no campus, me via morando na cidade, gostei muito das pessoas, me senti super acolhida e senti que a adaptação não seria tão difícil”. 

Quando voltou para o Brasil, depois da experiência acadêmica, com a certeza de que queria se formar em Barnard, não demorou para começar o processo de aplicação para a graduação. Na espera pela resposta de Barnard e, como o ano letivo nos Estados Unidos acontece em época diferente, Julia começou a graduação em Relações Internacionais ainda no Brasil. Quando o resultado chegou, ela ainda estava no primeiro semestre. “Lembro até hoje que eu estava em casa e recebi o e-mail. Quando entrei no meu perfil do site da universidade, começou a cair confete na tela e fiquei em choque”. A família toda comemorou: “Naquele momento a gente já esperava que minha vida iria mudar completamente. E de fato mudou”.  

Julia se mudou para Nova Iorque em 2019 com o sonho de se graduar na Universidade de Barnard. Hoje, aos 22 anos, ela é formada em Ciências Políticas pela instituição e trabalha em um dos escritórios de advocacia mais antigos da cidade que nunca dorme. “Se não fosse pela Fundação CSN, eu não sei se eu teria aplicado para estudar numa faculdade nos Estados Unidos; eu não sei se eu estaria morando agora nos Estados Unidos; eu não sei se eu estaria estudando o que eu estudo hoje; eu não sei se eu estaria indo trabalhar onde eu vou trabalhar hoje. Provavelmente a resposta seria não”.