21dez
Garoto Cidadão e a transformação por meio da cultura

Projeto sociocultural em atividade desde 1999, o Garoto Cidadão busca promover a inclusão social e o desenvolvimento educacional, sociocultural e emocional ao proporcionar vivências de cidadania ativa para crianças e jovens nas comunidades. Ao longo da trajetória do projeto, mais de 10 mil educandos e educandas já participaram do projeto e desenvolveram autonomia para se tornarem protagonistas de suas próprias vidas, como é o caso de Lucas, Flávio e Camila – que têm em comum o amor pelas artes.

Em 2009, quando recebeu o telefonema confirmando a entrada para o Garoto Cidadão de Congonhas (MG), Lucas Emanuel, então com 12 anos, ficou extasiado. Dentre as diversas opções da área artística dentro do projeto, ele tentou vivenciar um pouco de cada: literatura, dança, teatro – e foi com a música e atividades que envolvessem a escrita e a poesia que ele se deu bem, quando começou a se sentir direcionado para pautas que envolvessem a comunicação. Não demorou muito para que passasse a participar da rádio do Garoto Cidadão, onde tocava músicas no intervalo e anunciava os festivais e espetáculos realizados pela Fundação CSN.

Uma das memórias favoritas é do Festival de Inverno de Congonhas, do qual participou após um convite de Magda Puygcerver, atual Coordenadora Regional de Minas Gerais do Garoto Cidadão. Nesse festival, Lucas presenciou uma oficina de escrita que o impressionou: “tomei gosto por escrever, pela literatura e acho que essa semente nasceu também ali”, revela.

Em 2012, Lucas foi chamado para uma vaga de jovem aprendiz na Caixa Econômica Federal. Na entrevista para a seleção, ele comentou sobre sua experiência como educando do Garoto Cidadão: “mencionar a minha participação no projeto foi fundamental para a minha contração”, recorda. Ali o futuro profissional de Lucas começou a ser desenhado. Hoje ele é graduado em Direito e está trilhando seu caminho para se tornar servidor público. “O Garoto Cidadão foi fundamental para que eu chegasse aonde estou, sabendo exatamente o que eu quero e para onde quero ir”. Hoje ele trabalha na área administrativa da Casa de Apoio, espaço Comunidade CSN para desenvolver o relacionamento da CSN Mineração com a comunidade de Congonhas (MG).

O que Lucas sente pelo Garoto Cidadão é “uma gratidão muito grande”, diz. “Quando eu passo nas ruas de Congonhas e vejo os moleques com aqueles uniformes muito bonitos, bate aquela nostalgia. O carinho que os educadores tinham com a gente também foi essencial e me marcou muito porque sempre nos incentivaram e orientavam muito”, relembra. Lucas espera que o Garoto Cidadão “continue cada dia oportunizando vivências para mais crianças e adolescentes.”

Anos depois de Lucas ter saído do Garoto Cidadão, em 2018, e a mais de 1000km de distância de Congonhas, Camila, à época com 9 anos, fazia parte de outro projeto do município de Araucária, no Paraná, quando conheceu o Garoto Cidadão: “tive o meu primeiro contato com a arte ali e logo me apaixonei”. Enquanto educanda, Camila descobriu que a dança era sua grande paixão. Ela conta que, naquela época, conheceu “pessoas maravilhosas e tive muito contato com a cultura. Assistimos outras orquestras, grupos de dança. Também fiz muitas amizades e conheci o instrumento que hoje eu não vivo sem: a Viola de Arco”.

Camila ficou no projeto até completar 18 anos, em 2022. “No Garoto Cidadão aprendi a sonhar de verdade e que, com dedicação, eu chego a qualquer lugar; o projeto me mostrou que eu não vivo sem arte e me ensinou como amar, porque amor e educação são as palavras que definem o Garoto Cidadão”.

Próximo de completar o tempo no projeto, ela descobriu uma vaga de Jovem Aprendiz na CSN. A oportunidade de atuar na área de Logística propiciou a efetivação como funcionária agora em 2023. O plano de Camila, agora, é seguir trabalhando para conseguir realizar seus sonhos, que incluem “conseguir meu dinheirinho, me formar em dança e poder ministrar aulas. Também quero poder ter a minha própria Viola, talvez me formar em música também e o mais importante, que continuar criando arte com muito amor e carinho”.

Se junta às trajetórias de Lucas e Camila a história de Flávio Teixeira – conhecido carinhosamente como Flavinho, que se entrelaça com caminho da Fundação CSN em vários momentos da linha do tempo. Natural de Volta Redonda, ele entrou para o Garoto Cidadão aos 7 anos, no final da década de 1990, quando o projeto ainda tinha outro nome. Desde então, Flavinho iniciou sua jornada com a Fundação: de educando do Garoto Cidadão passou pela Orquestra Jovem, atuou como assistente de produção do Centro Cultural Fundação CSN e hoje é coordenador das unidades do Garoto Cidadão de Bonito e Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul.

“Como todo moleque, eu era doido por futebol, então entrei no projeto com a ideia de jogar bola, não pensava em música. Mas minha mãe sempre me incentivou a seguir na Fundação e não me distanciar dessa base artística”. Ao longo dos anos, ele foi passando por todos os projetos. “Sempre que aparecia alguma possibilidade, eu estava envolvido. Toda a minha vivência na Fundação CSN foi ampliando muito meu olhar de que é possível viver de arte e cultura”, explica.

Ao completar 3 anos de Garoto Cidadão, Flávio entrou para orquestra e participava das oficinas de canto-coral – tomou gostou e se adaptou na percussão. “A Fernanda Martins, que hoje é professora dos Tambores de Aço, foi minha primeira professora no Garoto Cidadão e na Orquestra”, relembra ele. Flavinho deu início, então, a sua trajetória cultural como percussionista: “toquei na Orquestra da Fundação e, anos depois, também fiz parte dos Tambores de Aço, na primeira formação”.

Tempos depois, ele foi contratado como assistente de produção do Centro Cultural Fundação CSN, ainda em Volta Redonda – o conhecimento sobre o caminhão-palco, adquirido junto do Tambores de Aço, e da parte técnica o auxiliaram nesse trabalho. Ficou no Centro Cultural até 2019 e, ano seguinte, ele recebeu a proposta de se mudar para o Mato Grosso do Sul para implementar três unidades do Garoto Cidadão: Bonito, Coxim e Porto Murtinho. Atualmente, ele é coordenador do Garoto Cidadão nas unidades de Bonito e Porto Murtinho.

“Eu me sinto muito privilegiado por toda a transformação que a Fundação CSN me proporcionou na minha vida, as experiências sociais e culturais, que ampliaram meu olhar e me fizeram enxergar que é possível viver de arte e cultura”, comenta. Ele afirma que toda bagagem adquirida ao longo dos anos como educando e como produtor o prepararam para estar à frente das unidades do Garoto Cidadão.

Flávio comenta, ainda, que a implementação das unidades no Mato Grosso do Sul foi um desafio por ser uma novidade, por conta da distância – a família de Flávio está toda em Volta Redonda. Após dois anos da mudança, ele diz que a Fundação já está criando raízes nesses locais.

“Tudo que eu sou hoje foi construído dentro da Fundação CSN. Eu vivia dentro da Fundação, fosse ensaiando ou estudando. Viajei muito com os projetos. A minha primeira viagem de avião foi por causa da Fundação. Também já rodei bastante alguns cantos do Brasil por conta do caminhão-palco. Conheci e sigo conhecendo muitas culturas diferentes, locais e regiões distintas, cada lugar com seu jeito.”

Neste ano, o Garoto Cidadão expandiu sua atuação em mais cinco localidades – tendo chegado ao nordeste. Atualmente, o Garoto Cidadão está presente em 13 cidades de 5 estados brasileiros, atendendo milhares de crianças e adolescentes para exercerem o protagonismo jovem em um espaço que, além de oportunizar o contato com a cultura em suas mais diferentes formas e promover debates sobre garantia de direitos.