27 jul 2018

Bem, acabou o programa. E agora? Durante as 9h de voo de volta ao Brasil, minha cabeça pipocou com dúvidas sobre os próximos passos. Não só sobre a faculdade, mas sobre o quanto essa experiência mudou coisas a meu respeito. A jovem que foi pela primeira vez aos EUA em junho de 2017 era diferente da que ia de novo há um mês, e a pessoa que sou hoje, já de volta ao meu país, diferente das duas. Quando você visita um país por um período de tempo mais longo, principalmente um país tão diferente do seu, é como se redescobrir por outro ângulo.

Quando fui para The New School no ano passado, literalmente não imaginava que ia me “habituar” àquela vida, àquela cidade. Depois de um mês dando um upgrade no inglês, que já falava há bastante tempo, era natural que os pensamentos começassem a vir nessa língua. E eu achava tão engraçado quando, durante as chamadas de vídeo com meus pais, eu dizia uma palavra em inglês e tentava achar seu significado para explicar para eles, porque eu simplesmente não conseguia me lembrar de como dizer aquilo em português. Isso ilustra bastante o que foram aqueles dois meses em Greenwich Village, o lugar em que tudo acontece ao som de música nas ruas e você estuda sentado na grama dos parques.

Foi a maior experiência que tive com o aspecto de me “desligar” do que eu conhecia antes, dos meus conceitos predeterminados sobre uma cidade, sobre pessoas, sobre o que um lugar parece ser e o que realmente é. Mesmo que, na grande maioria do tempo, eu estivesse com minhas colegas brasileiras, pude conhecer muitas pessoas e principalmente a cidade. O meu passatempo favorito era ir pro primeiro lugar que visse no mapa de NYC ao ver o mapa que ficava na estação de metrô. Foi assim que comi a melhor pizza da minha vida na parte sul do Brooklyn, passei por um dos parques mais bonitos que já vi no Queens, e assisti a um quarteto de violoncelos no extremo leste de Manhattan.  Essas experiências fizeram com que eu nunca mais visse um parque ou uma arte de rua da mesma forma.

Já na segunda vez, a experiência acadêmica foi completamente diferente. Ao invés de dedicar as horas de estudo excepcionalmente ao inglês, essa parte foi de uma certa forma esquecida, e o foco foi em matérias de teatro e política. Claro, todas as atividades e tarefas foram feitas em outro idioma, mas minha experiência prévia na The New School fez com que eu estivesse adaptada a estudar dessa forma, então era fácil esquecer que eu não estava participando de uma aula ou fazendo anotações em minha língua nativa. A faculdade de Barnard também se certificou de que tivéssemos muito o que fazer durante todo o programa, incluindo muito dever de casa, os quais felizmente eu conseguia terminar a tempo de participar das excursões organizadas pelas simpáticas RAs – nossas monitoras – que não mediam esforços para planejar atividades e nos ajudarem sempre precisássemos.

Estando em um local onde o foco era a universidade de Columbia e não mais as ruas e praças, me dediquei a encontrar os melhores “spots” para ler, fazer minhas tarefas e comer sempre em lugares diferentes daquele campus enorme. Uma das melhores partes da universidade com certeza é o campus aberto, cheio de espaços gramados onde muitas vezes me sentei com as garotas para bater um bom papo enquanto comíamos batatas fritas. Aliás, esse foi o ponto mais forte do Pre-College Program de Barnard, as amizades. Estar em duas aulas diferentes onde nenhuma das garotas se conhecia (e todas eram americanas, diga-se de passagem) foi uma surpresa. Não porque eu não esperasse que fossemos todas tão diferentes, pelo contrário; eu não esperava que fossemos todas tão parecidas. Curiosas, interessadas, falantes, cheias de vontade de nos expressarmos e aprendermos sobre tudo. Tanto nas aulas de Shakespeare quando nas de política, o que vi foram jovens que se empenharam ao máximo para absorver conhecimento, o bem mais precioso que se pode ter.

E sempre haverá um carinho especial pelo nosso grupo de amigas. Cada uma das amigas que fiz nesse mês – que pareceu bem mais tempo – tem algo de único que nunca será esquecido. Minha “roomie” Alexandra que fazia o papel de mãe sempre me dando boa noite antes de dormir; uma outra Alex que me encantou logo de início, a menina mais doce que já conheci, e com quem compartilhei tantos momentos que mal posso lembrar de todos; nosso grupo brasileiro com quem pude estreitar os laços: Bianca, Bia, Larissa e Júlia, todas maravilhosas representantes das jovens engajadas e com força de vontade em nosso país; e não posso deixar de falar delas, Saisha e Natalie, que animavam todos os nossos encontros, seja com piadas, música ou dança – Drake reinando em nossas playlists – e completando nosso pequeno e animado grupo, de ótimas estudantes e mais do que isso: garotas que no futuro, serão as mulheres que, onde quer que estejam, farão a diferença, porque “the future is female” – o futuro é feminino.

Brazilian Girl of 506

 

Por Maria Livia, bolsista do Ganhar o Mundo